terça-feira, 18 de dezembro de 2018

Solidão


Hoje a solidão se fez presente.
Tão presente que não pude mais me sentir só.
Ela está aqui, uma companheira fiel, seguindo meus passos, velando meu sono.
Até os canais da TV saíram do ar, afinal de contas, notícias, novelas e tragédias não são mais necessárias.
Tomei meu café sozinho, sentindo sua presença silenciosa e doce.
Saí do banho e a solidão me esperava, sentada na cama, secou meus cabelos e me desejou um bom dia de trabalho.
Pensei então que fosse sozinho. 
Felizmente ela já me esperava no carro.
Seguimos juntos e estamos escrevendo este texto.
Não posso mais pensar ou dizer que sou sozinho.
Estou muito bem acompanhado.

Rafael Freitas



quarta-feira, 12 de dezembro de 2018

Cara estranho


As trombetas do fim do ano soaram.
Mais um fim entre tantos.
Estava na festa, pude ver em meio às pessoas, aquele cara estranho.
Não me lembro exatamente do nome que me disseram, talvez nome bem popular, desses de pobre.
Mas de alguns detalhes me lembro bem: pisciano, olhos apertados, cabelos castanhos enrolados e uma enorme dor no estômago.
Esses são os detalhes que ouvi. Todos comentavam a seu respeito.
Os detalhes que eu mesmo notei talvez sejam mais abstratos: pisciano fora do aquário, olhos apertados perdidos, cabelos castanhos enrolados como a própria vida e uma enorme dor no estômago (talvez um vazio no peito que doesse mais).
Não sei por que chamava tanta atenção se não desviava o olhar do próprio copo de uísque.
Certamente um egoísta. Um misógino, machista, homofóbico.
Mas isso eu só podia acusar, afinal não trocamos nenhuma palavra nem olhares.
E acusações não faltavam naquela festa, boca a boca, ouvido a ouvido. Todos apontavam o estranho com seu copo de uísque que olhava para o próprio umbigo.
Todos apontavam com razão aquele idiota, insensível, ogro.
Todos diziam as atrocidades que cometia todos os dias com a vida, a história e o coração das pessoas boas que cruzavam seu caminho.
Ouvi tamanhos horrores que decidi me vingar em nome do bem comum.
Marchei com meu ódio estampado no rosto em sua direção. Tinha um plano a executar: jogar aquele copo no chão, segurar com as duas mãos a cara daquele opressor filho da puta e dizer umas verdades! Ah! Todas as verdades do mundo.
Ele não vai sair impune dessa vez!
Parei em sua frente. Impávido colosso. Sentia gosto de sangue em minha garganta.
Vai pagar por tudo que fez a mim e a tantos outros!
Vai pagar!
Joguei seu copo no chão, segurei seu rosto entre as mãos.
Senti um enorme desespero diante daquele olhar. Um olhar estranho, indescritível.
Olhar castanho, opaco na superfície e iluminado em sua escuridão.
Frio e quente ao mesmo tempo. Um paradoxo.
A sua estranheza era um paradoxo.
O salão silenciou. Todos esperavam uma reação típica de um monstro épico, um cuspe, um soco, um pontapé.
Mas nada aconteceu.
O cara estranho, egoísta, idiota, insensível tinha perdido a vontade de destruir a vida de todos que estavam ali.
Abaixou o olhar novamente e saiu em direção à porta.
Foi embora sem nenhuma manifestação de descontentamento.
Aparentava somente tristeza. 
Bem pudera! Pela vida que levava era o mínimo que merecia.
As pessoas aglomeradas, bem vestidas e de bom coração não aceitavam aquela reação.
Todos começaram a se questionar se ele não pagaria nunca pelo que fez.
Logo se questionaram o que ele realmente havia feito.
Eu me questionei o que havia feito a mim.
O que ele havia feito?
O mesmo vazio que estava em seu peito se fez vazio no mundo.


Rafael Freitas



quarta-feira, 21 de novembro de 2018

Verbo


Sim, eu amo você
Mesmo com toda breguice
Mesmo com tola chatice
Mesmo com minha burrice
Eu amo você.

Repito: talvez eu ame você
Sendo tão louco, insano
Sendo arrogante, tirano
Sendo infiel e mundano
Talvez eu ame você.

Certamente eu amava você
Desde o primeiro momento
Desde o pior sofrimento
Desde o grande lamento
Eu amava você.

Sim, eu amei você
Tivemos um triste final
Um almoço pra lá de formal
Nada além do normal
Como eu amei você!

Não sei o que mais importa
Não entendo essa sensação
De tirar um piano das costas
Esmagando o coração.


                                      Rafael Freitas





segunda-feira, 29 de outubro de 2018

Por quê?


Por que você não me deu a mão antes da queda?
Por que não secou minhas lágrimas e me abraçou naquele momento de tristeza?
Por que não tentou ao menos me ouvir ao invés de dizer, cada vez mais alto, que somente você tem razão?
Por que tanto julgamento, tanta ironia, tanto empurrão?
Por que tanto barulho por nada?
Por que tudo isso?
Por quê?
Porque eu não sou você.
Porque minha dor não o comove.
Porque minha indignação pra você é cegueira.
Então segue seu rumo que eu sigo uma vida.

Rafael Freitas



segunda-feira, 1 de outubro de 2018

Dias úteis


Eu passo os dias úteis
Tramando planos
Projetos inúteis
Que se vão na sexta à noite.

Eu passo os dias úteis
Prometendo não me repetir
Não voltar atrás
O sábado arrependido.

E vem a noite
Vão se os arrependimentos
Que se escondem em garrafas
E me esperam em minha cama.

Já é domingo
Já é segunda-feira
Tiro o pó da alma
E começo novos planos.

Inúteis.

                                            Rafael Freitas







segunda-feira, 17 de setembro de 2018

Dias que parecem não ter fim


Olhava distante a cidade.
O vidro embaçado pela chuva dava a impressão de que a realidade não era aquela.
Talvez, realmente, não fosse.
A cidade, enorme, engolia os carros e as pessoas e cuspia um barulho ensurdecedor.
Todos, sem exceção, buscavam não se sabe o que, não se sabe onde, não se sabe quando.
Uma inquietude na alma que refletia em dores no corpo, aperto no coração.
Desceu correndo do carro sem prestar muita atenção ao redor.
Pausa.
Encontrou-se, repentinamente, no ano que não terminou.
As mãos suadas, a boca e os olhos secos.
Queria sair dali, correr sem olhar pra trás, mas era tarde.
Desviou o corpo trêmulo das fardas, subiu as escadas infinitas e encarou o cárcere voluntário.
Como foram aqueles anos?
O que aquelas paredes viram?
Será que foi tudo mentira ou a verdade se esconde no cinza dos corrimões?
Definitivamente, não era isso. Não era aquilo. Não era.
Melhor ir embora.
Melhor não voltar no tempo.
Viverá eternamente com esta dor no estômago do ano que não terminou, deste ano que não termina.
Viverá eternamente com esta angústia do passado que volta à tona, dos dias que parecem não ter fim.

Rafael Freitas



segunda-feira, 10 de setembro de 2018

A saudade era a mesma


Os dias pareciam sempre iguais.
A mesma dor, o mesmo cansaço, a mesma solidão.
Talvez as mesmas escolhas em sentir sempre o mesmo.
Mudanças não aconteciam ou não eram aceitas.
A saudade era a mesma. Dos olhares e das noites intermináveis ao seu lado.
Por que não conseguia ficar ali?
Não sabia a resposta.
Corações livres quase sempre são sozinhos.
Um querer arrependido ao amanhecer do dia.
Amores são contratos.
Não queria contratos iguais a todos que já viu.
Não queria uma vida igual.
Estava agora face a face com o abismo.
Queria apenas segurar a mesma mão.
Unhas vermelhas e anéis gigantes.
Ela gosta de ouro. Já ouvira.
Não tinha muito a oferecer.
Corações livres quase sempre são sozinhos e não têm nada a oferecer.
A saudade era a mesma. Talvez maior que antes.
Não tinha muito a dizer.
Os dias pareciam sempre iguais.
A mesma dor, o mesmo cansaço, a mesma solidão.
Talvez as mesmas escolhas em sentir sempre o mesmo.

Rafael Freitas



sexta-feira, 17 de agosto de 2018

Amores são como livros


Amores são como livros
Livros novos, perfumados
Cheiro de impressão recente
Cheios de impressões recentes

Amores são como livros
Escolhemos pela capa
Pela sorte, até dá certo
Por engano, algumas páginas

Amores são como livros
Histórias fascinantes
Lidas, devoradas
Releituras que revelam
Sempre o mesmo final.

Rafael Freitas



domingo, 22 de julho de 2018

Se você soubesse

Se você soubesse de tudo que eu não gosto
Talvez não fizesse tudo sempre igual
Não dissesse sempre as mesmas coisas
Não terminasse a noite com o mesmo olhar.

Se você soubesse de tudo que eu temo
Talvez usasse contra mim
Talvez dissesse por aí
A noite me perderia.

Se você soubesse o quanto eu já amei
Talvez entenderia o pé atrás
Talvez entenderia o porque não
A minha solidão noturna.

Se você soubesse o tudo que eu não sei
Deixaria de tentar me ensinar
Entenderia que há muito a aprender
A noite é uma velha professora.

Por fim, se você soubesse
Se eu soubesse alguma coisa
Sobre você e sobre mim
Nossa noite seria menos fria.

Rafael Freitas


segunda-feira, 11 de junho de 2018

Muito a temer


Podia ser um domingo.
Talvez fosse.
Sei que era um desses dias imóveis, de céu amarelo, sem brisa, sem ar.
As ruas em silêncio.
Só se ouviam sussurros, passos lentos, arrastados.
Como num velório, pessoas se reuniam atônitas e tristes ao mesmo tempo.
Um choro lento, sem soluços, porém profundo.
Ninguém ousava tentar explicar aquele fim trágico, aquela trajetória meteórica.
Era domingo.
Alguém ligou a televisão em algum lugar. Podiam-se ouvir risos de auditório e músicas sertanejas. A diversão programada não desiste nem em meio a tanta tristeza.
Cheiro de cravos, de velas.
O cheiro do fim.
Nem um discurso inflamado de hipocrisia conseguiria enganar os corações.
A televisão ao longe trocou o canal. Passava futebol.
De repente, como num susto, um vendaval fez folhas secas voarem, uma pequena agitação atingiu a todos.
Alguém começou a gritar palavras de ordem, anunciando o apocalipse de João.
O vento não cessou.
A televisão gritava gol.
Era domingo.
Era um velório.
Em meio às pessoas atônitas e tristes ao mesmo tempo, estava ali, no chão, sem as pompas das cerimônias fúnebres, uma bandeira desbotada, queimada pelo sol, com toda sua ordem e progresso.
O céu era amarelo.
Os sorrisos verdes, dentes podres.
A pele azul de fome.
Havia muito a temer.


Rafael Freitas





segunda-feira, 30 de abril de 2018

Quase dez


Aquele dia, há algum tempo, deu dor no peito.
Uma mochila, um fogão e uma geladeira.
Um vazio. Uma dor.
Fomos nos reconstruindo.
Certamente, quem passa por aqui e não sente, não recebe e não vive todo esse amor, talvez fosse melhor não ter passado.
“Quem é o amor da minha vida?”
“Sou eu, ué.”
É ué.
O grande amor da minha vida.
Ensina, questiona, desafia.
Amor só pode ser assim.
Incômodo.
Não fosse incômodo, passaria despercebido.
Estamos de passagem.
Estamos aqui pra perceber.
Minha estadia neste mundo só tem sentido por você.
Quase uma década. Toda uma vida. Paixão pelo pouco, pelo simples, pelo momento.
Tenho lágrimas nos olhos. Hoje, de felicidade.
Parabéns, meu filho amado.
Muito amado.
O cara que ensina política falando de batata frita.
Não existe mais vazio. Há nove anos.
Sigamos.
Vamos almoçar no shopping.

Bad boys then, bad boys now, good buddies

mau, mau, mau
Keep it up, rock'N'roll
Good music save your soul

Rafael Freitas



quarta-feira, 28 de março de 2018

Sobre dias que poderiam não existir


Os ovos boiavam nas bolhas da água que fervia.
Dois.
Não se atentou ao tempo. A gema escorreu crua entre os dedos.
Sangue amarelo de um embrião que nunca existiu.
A cabeça doía há três dias.
Um dia, uma semana, um mês que era melhor não ter existido.
A vida escorria crua entre os dedos. Crua, sem preparo.
A tristeza de uma festa vazia.
A tristeza de um hospital lotado.
Não teve paciência de esperar o ovo cozinhar.
Odiava comidas cruas.
O ouvido zumbia.
Muito barulho por nada.
A vida toda.
Por nada.
Foi embora sem levar os anéis de ouro, os remédios de pressão, o creme de pitanga.
Todos vamos embora.
Não era hora.
Não teve paciência de esperar a vida amadurecer.
Ovos crus.
Sangue amarelo.
Nada de crisântemos. 
Esses dias poderiam não existir.

Rafael Freitas



segunda-feira, 26 de março de 2018

Menino Passarinho

- Mãe! Mãe!
Entra correndo, pingando suor.
Respira, tenta se acalmar.
- Eu vou morrer numa sexta-feira, no mês de abril, daqui uns 73 anos, mais ou menos.
- ?
- E quero um velório igual ao pai do avô Felipe. Sem caixão. Deitado em cima da mesa. Sem caixão. Caixão é feio, você não acha?
- Mas filho...
- Ah, e quero também um terno cinza claro, igual o do avô Felipe. Camisa branca sem gravata. E não pode esquecer que é sem sapatos. Pés descalços.
A mãe até tenta entrar na história:
- E vai ter flores?
- Não pensei nas flores ainda. Mas eu quero um disco dos Beatles tocando, igual o avô Felipe gostava.
- Mas você nem ouve muito Beatles.
- Quando eu ficar mais velho vou ouvir.
- E o que vai colocar no epitáfio?
- O quê?
- O que vai escrever no seu túmulo?
- Ah!!! Um poema do Drummond ou do Mário Quintana. Igual o avô Felipe lia pra mim. Eu gosto de poesia. Das poesias que o avô Felipe lia.
- Qual poema?
- Ah... Pode ser aquele do passarinho.
- Eles passarão, eu passarinho...
- Todos esses que aí estão atravancando o meu caminho! Tá vendo, mãe, eu decorei!
- Esse se chama Poeminho do Contra do Mário Quintana.
- Eu sei.
- E pra quê essa pressa toda em morrer? Você só tem oito anos!
- Não é pressa. Um homem prevenido vale por dois. Avô Felipe dizia sempre isso. Sinto saudades dele.
- Eu também.
- Ele me ensinou que há poesia em tudo. Até na morte. No velório disseram que ele morreu como um passarinho...
- E você quer morrer como um passarinho também?
- Não. Eu quero viver. Eles passarão, eu passarinho.

                                                              Rafael Freitas



sexta-feira, 9 de março de 2018

Eu sei


Voz de chamar a atenção:
- VOCÊ NÃO FEZ A TAREFA! DE NOVO! A PROFESSORA FALOU QUE VOCÊ ANDA MUITO DISTRAÍDO! O QUE ESTÁ ACONTECENDO?
- EU NÃO QUERO!
- COMO ASSIM NÃO QUER? VOCÊ NÃO TEM QUE QUERER! É PRA FAZER E PRONTO!
(com cara de choro) – É QUE EU JÁ SEI ESSAS COISAS!
Pausa.
Pausa.
Pausa.
- Eu sei que você sabe...
Essa história acaba assim: com um abraço apertado de conforto, como canção de acalanto, compreensão e amor se encontram.

                                                  Rafael Freitas




quarta-feira, 7 de março de 2018

Estamos todos atrasados


O tempo passa.
Quase dois litros d’água nesse calor infernal.
Os anos passam rápido, as horas nem tanto.
O dia parece não ter fim. A vida logo tem seu fim.
Depositaram pessoas fora da visão, enxergar incomoda.
Mais um copo d’água. Mais um descontentamento.
Existe essa vida, que nem amo, nem odeio, não valorizo, nem desprezo.
Apenas mais uma vida.
Talvez Deus não perdoe pessoas como eu. Pessoas que não dão valor.
Justificaram massacres pela bíblia.
Não, não foi no século XVII.
Essa semana.
A dor não incomoda mais ninguém.
É só justificar que tudo passa.
Passa pra quem vê, passa pra quem ouve, não passa pra quem vive.
Temos tão pouco tempo é o que dizem.
Realmente, estamos todos atrasados.

                                                                     Rafael Freitas

“Cinco extinções em massa
Quatrocentas humanidades
E eu com esses números?
Solidão a dois
Dívida externa
Anos luz
Aos 33 Jesus na cruz
Cabral no mar aos 33
E eu... o que faço com esses números?”
HG



sexta-feira, 9 de fevereiro de 2018

Pedro. Pedrada.

Corpo cansado. Mente cansada.
“O sofrimento não tem forças pra ferir um corpo cansado.”
Não tem.
Estou tirando forças nem sei de onde, nem sei por quê. É como se um vácuo ocupasse esse vão entre coluna e costelas. Um vazio.
Como num Expresso da Meia Noite, a luz além da fronteira, o correr para a liberdade, talvez se encontre em seu sorriso e em suas meias palavras arrastadas.
Tenho a certeza de que não sou o melhor do mundo em presença, em companhia, em algo mais. Nunca quis ser o melhor do mundo em nada. Nada.
Talvez a vida nos prepare surpresas irritantes, nos apresente a teimosia das crianças, nos coloque em armadilhas sociais, nos enterre até o pescoço em meio ao tédio para nos mostrar o quanto é bom estar tranqüilo, o quanto é bom amar.
Eu amo você. Amo vocês. Os dois.
Você que sempre estréia: nasce em nome de filme e faz aniversário no carnaval.
Você que adora música (Música) e quer o “virolão” só pra você.
Menino arteiro, artista, teimoso, destemido.
Menino do meu cabelo, da minha cara, do meu temperamento.
Menino difícil, de riso fácil, de cantoria.
Menino que bate, que apanha, que chora, que grita, que rola: no barro, no chão, na lua, na grama, na rua...
Esse menino é o meu menino.
Estou antecipado. Não se comemora aniversário antes da hora!
Não é comemoração. É só uma declaração de amor.
Parabéns meu filho que amo tanto do meu jeito. Esse jeito de não sei.
Pedro. Pedra. Pedrada. Na cara. Vê se acorda, né pai!
Seja feliz e saudável. Apenas seja. Ser já é uma vitória difícil nesses dias temerosos do “que tiro foi esse?”, das reformas, da pro forma.
“São tempos difíceis para os sonhadores.”
Continuaremos sonhando acordados. Eu e você. Você e nós.

How many ways to get what you want
I use the best I use the rest
I use the enemy I use anarchy 'cos I


I wanna be anarchy!
The only way to be

                                                         Rafael Freitas