quinta-feira, 29 de maio de 2014

As mulheres de Henry

para C. Bukowski

Loiras, ruivas
Morenas, mulatas
Gordas, magras
Intelectuais, culturetes
Analfabetas, incorrigíveis
Bêbadas, anônimas
Famosas, promissoras
Apenas algo em comum:
A claridade no olhar.
Olhos azuis ou cor de mel
Castanhos, verdes ou raiados
Sempre luminosos, vivos.
Talvez por medo da escuridão
Talvez pela insistência em ver além
Talvez pelos espelhos d’água
Mas sempre claros.
O único olhar escuro
Aqueles olhos pequenos
Que disseram menos verdades
Deixaram um amor eterno:
Um filho pra sempre lindo.
A busca por olhares
Olhos iguais ao céu
Olhos iguais aos seus
Parece não acabar
Nem na literatura escolhida
Nem nas ruas da vida
Nem na cachaça sorvida
Nem nos problemas com rima.
Ah! As mulheres de Henry!

                                             Rafael Freitas

quarta-feira, 21 de maio de 2014

O fim da festa

Ontem aparei a grama.
A cor do portão mudou.
A bananeira, depois de um longo tempo, novamente floresceu.
Tenho alguma fixação neste jardim.
Não é lindo, nem tão florido, mas disponho meu tempo à alguns cuidados.
Cuidados mínimos, eu sei, mas que me afastam deste mundo tão cheio de réplicas.
Não nasci para este lugar.
Deve ser por isso minha resistência ao choro nos primeiros instantes, minha sede insaciável, meu afogamento em goles.
Não devia ter ficado.
Não sei por que ainda espero o fim da festa.
Aqueles finais onde as mulheres mais bonitas já desbotaram a maquiagem, onde os galãs mais idiotas já embebedaram seus curtos vocabulários.
O fim da festa.
Eu moro muito longe e sozinho e mesmo assim incomodo.
E, apesar destas mandingas espalhadas pelos cantos, apesar destes arrepios em presenças ilustres, ainda vou seguindo.
O que mudou?
Não espero mais o fim da festa.
Se soubesse antes o que sei agora, mudaria meu destino naquele dia fatídico.
Era março, era tarde.
A festa só começou.

                                                       Rafael Freitas