quarta-feira, 30 de junho de 2010

A DOENÇA É DESCULPA DO CARÁTER

Abro a porta

Entro

Sentada no sofá

Minha irmã

Dou um tiro

Na testa

Ela cai

Morta

Um bem pra humanidade

Menos uma sanguessuga

Ando pelo corredor

Surge

Minha mãe

Apavorada

Outro tiro

Na testa

Ela cai

Morta

Menos uma injusta no mundo

Vou pra cozinha

Abro a geladeira

Pego o leite

Bebo

Dessa vez minha mãe não vai reclamar

Ótimo

Agora o leite é de quem quiser beber

Assim tem de ser

Comida para quem tem fome

Não só pra filhinha mimada

É

A filhinha mimada não vai poder bebê-lo

Eu

Não sei

Não sou doente

Posso ser tudo

Só não me chamem de doente

Sempre ouvi minha mãe ser doente

As pessoas diziam

“Sua mãe é doente, não é boa da cabeça.”

Cansei de ouvir isso

Pra mim...

... Ela era mau caráter!

Não é mais

Absolvi

Agora...

... Sou um justiceiro

A doença é a desculpa do caráter



                                                                                  Pablo Treuffar


terça-feira, 29 de junho de 2010

Gene



"Até hoje, desde os tempos do colegial, tento entender as leis de Mendel.
Não entendo nada de recessivo e dominante, nem de porra nenhuma!
Meu pai tem dois filhos.
Um ele diz louco e o outro inojante.
Será que ele tem parte nisso?
Me explica Mendel!!!"
Rafael Freitas


Amanhã postarei outro conto do Treuffar.

Abraço.

sábado, 26 de junho de 2010

Passeio

Ali deitada

Como que dormindo estivesses.



Os olhos estalados e cegos.



Sob os longos cabelos

Um riacho vermelho

O passeio percorre.



Outrora,

Por sobre o passeio, passeavas.

Nunca o tocaras.

Nunca o notaras.



A ti, ele conhecia!

Sofria as agulhas sob teus pés.



Agora,

Pura ironia.

O leito onde dormes

Por onde escorre tua vida.


 Renato Duran

sexta-feira, 25 de junho de 2010

Viva!!!

"Vivemos esta vida como se não fôssemos morrer e como se nossa presença neste mundo fosse realmente fundamental.

Nossas ações são medíocres e nossa vida uma eterna rotina.

É melhor não nos perguntarmos o por quê de tudo isso.

É melhor continuarmos sem perguntas e sem respostas.

As respostas podem nos arrepender das perguntas que fizemos."

                                                                                        Rafael Freitas


Amanhã postarei mais uma poesia de um amigo.

Abraço.

terça-feira, 22 de junho de 2010

A vida é curta

Como a vida é curta. De fato muito curta. Isso nos dá a possibilidade de sermos imbecis.

Pra quê tanta busca se amanhã já acabou?

Pra quê?

E o fim é tão repentino quanto o começo.

O fim da escravidão é o começo da liberdade.

O fim da inocência é o começo da maldade.

O fim e o começo. O começo é o fim.

O mundo nos grita o que não queremos ouvir e nós gritamos o que ninguém pode escutar. Gritos.

Silêncio.

Silenciamos quando é nossa fala e também quando é nosso silêncio. Simplesmente silenciamos.

Mas esse não é o momento.

Não quero ser mais um idiota de cabelos longos e nada pra dizer. Meu tênis não é da moda, minha camiseta não é de grife.

Fico perto dos banheiros em noite de festa e vou embora sozinho em festas de cio. Chuto pedras e fumo um cigarro.

Cigarro proibido em locais fechados.

Por que não proíbem a ignorância?

Fechariam o estabelecimento.

Temos de garantir o voto dos analfabetos e de toda gente saudável.

Saúde em primeiro lugar. Depois vem a vida, os dias, as horas e os anos.

Anos. Ânus.

Cuidado com seu cu.


Rafael Freitas



Perdoem o palavrão.

Abraço.

domingo, 20 de junho de 2010

O BARANGUERREIRO IDEOLÓGICO

guerra justa?
Odeio esses caras que só comem mulher bonita

Ficam escolhendo

Pensando

A bunda dessa é caída

Essa é gorda

Aquela é magra

Essa tem narigão

Aquela tem cabelo ruim

Essa não tem peito

Aquela não tem bunda

Todas têm defeito

Quase todas são barangas

Esse negócio de avaliar muito é coisa de mulherzinha

Homem que é homem fode mulher feia

Seleção natural porra nenhuma

Eu quero é cuspir porra

Esporrar

Todo dia

Quem pondera demais não mete em ninguém

Quem avalia muito acaba virando viado

Eu sou macho

Só como mulher feia

No mínimo uma por dia

Sem dente

Gorda

Pixaim

Adoro

Gosto muito duma nega gorda desdentada

Naomi Campbell

Beyoncé

Monica Bellucci

Bárbara Mori

Angelina Jolie

Não quero

De jeito nenhum

Mulher bonita não sabe foder

Dona bela é pra baitola

Ontem matei o décimo segundo babaca selecionador dos muitos que vou matar

Esqueci de falar

Tive um sonho noites atrás

Deus falava comigo:

- Nada de seleção cultural.

- As bonitas têm de sofrer.

Ele disse:

- Quando acordar vai ser pouco ter relações sexuais com uma mulher feia por dia até o fim da sua vida.

- De agora em diante você vai matar um mauriceba escolhedor por dia.

Obedeci

Agora estou indo pro analista

Procuro meu eu interior

Na mala do meu carro tem um corpo

Isso não é bom

Foge ao meu estilo de desova natural

Deixa pra lá

Vou contar como matei um zé cu

O mané tava pegando uma mulata deliciosa

Pensei

Bichaloca

Coloquei minha máscara

Minhas luvas

Saí do meu carro

Andei até os dois

Saquei minha Remington

Disparei

Adoro armas velhas

São como as mulheres feias

Vendidas por um terço do valor

Um patamar baixo

Como eu dizia

Dei um tiro perfurante no estômago do playboy

Gosto de atirar no estômago e ficar vendo o sujeito morrendo

Sofrendo

Tiro no estômago mata por embolia

Dá tempo deu explicar por que ele tá morrendo

Gosto que o fulano entenda que tá fenecendo por fazer pouco de mulher feia

Eu sou o equitativo

Eu faço a minha parte nas excluídas da beleza cultural

Sou o enviado de Deus em prol da salvação das mocreias sem picas

Em viado pegador de gata eu meto bala

Sem dó

Nem piedade

Lisura de procedimento

Rectidão

Esse é o meu destino na terra

Depois que vi o otário morrer

Reparei sua mulher olhando apavorada

Ela me disse chorando:

- Eu faço qualquer coisa, não me mate.

Tive uma ereção e por isso atirei nela também

Foi a primeira mulher que matei

Não posso fraquejar

Não como mulher bonita em hipótese alguma

Atirei na testa

Não queria explicar nada pra ela

Daqui a pouco, meu analista vai enlouquecer.

Contei pra ele do meu sonho com Deus

Descrevi minha teoria da crueldade humana com o não belo

Das sem pirocas

E agora não basta eu só foder elas

Deus mandou matar os homens que não copulam com mulher feia

O analista não perguntou se já matei alguém

Filho da puta

Ficou ouvindo plácido

Tudo bem

Hoje ele vai saber

Hoje ele vai morrer

A mulher dele é protagonista da novela das oito

Foi eleita uma das dez mulheres mais lindas do Brasil

Estou bolando requintes

Crueldades pra morte dele

Antes tenho que me livrar do corpo da mulher na mala do carro

Sim

A carcaça dela está na mala

O cadáver dos ditos-cujos que mato deixo no lugar onde caem

Nem ligo pras investigações

Não leio a repercussão

Não sou vaidoso

Sou Diplomata

Não sinto culpa

Papo pro meu analista

Sociopata

Ele deveria ter me dito isso

Não disse

O fato é

Imunidades para Diplomatas estrangeiros existem desde a Antiguidade

Esqueci de dizer que sou de El Salvador

O menor país da América continental

Nasci na cidade de Sonsonate

Voltando aos meus privilégios

Os embaixadores romanos eram considerados sagrados

Sua violação constituía motivo para guerra justa

Sei lá o que isso quer dizer

Adoro “guerra justa”

Na Idade Média as relações internacionais davam-se entre Chefes de Estado

Ofender um embaixador significava ofender o Chefe de Estado

Isso justifica as precauções da imunidade

E sendo assim

Foda-se todo o resto

Mato mesmo

Quer saber

Depois eu penso no que fazer com o corpo da mala

Meu carro tem placa azul

Não podem guinchar um carro com placa azul, mesmo que ele esteja fechando uma via.

Essa é minha guerra injusta

Vou direto pro analista

Hoje ele vai entender

Salvem as barangas

Não bata, coma!


Pablo Treuffar

sexta-feira, 18 de junho de 2010

Vem mais por aí...

"As pessoas são borboletas que nunca saem da pupa.
Nunca sairão.
Têm medo de serem devoradas por um predador ávido de fome.
Pelo medo, estas borboletas nunca conhecerão uma primavera."
Rafael Freitas

Como que se preparando pra nascer, esperando o momento certo, aparece em nosso mundo medíocre uma nova leva de escritores fantásticos.Amanhã publicarei um conto de um colega de blog do Rio de "Janeura".
Vamos deixar nossas prisões.
A leitura vale a pena.
Abraço.

terça-feira, 15 de junho de 2010

Sem lar

É difícil não ter um lar.

Hoje eu decidi não tê-lo.

Peguei as poucas coisas que tenho, poucas mesmo, coloquei em uma mochila e deixei pra trás o conforto de uma vida com pai, mãe e cachorro, mesmo porque, no fim das contas, o cachorro sou eu.

Tenho certeza de não estar louco, pelo menos por enquanto, e não quero ser tratado como tal. Sei muito bem o que ouço e o que falo, embora me neguem o que ouço e deturpem o que falo. É tudo uma grande comédia.

E agora estou eu aqui, sem aquela idéia adolescente de que se tudo der errado eu volto pra casa. Tudo agora depende exclusivamente de mim.

É estranho. Mas eu gosto de coisas estranhas.

Tudo isso é só mais um momento sem importância em minha vida, embora minha vida seja inteira de momentos desimportantes.

Eu nunca consegui mudar o mundo, mesmo tendo esperança de vez em quando.

O mundo não quer mudar. O egoísmo humano é habitual, e cada pessoa acredita plenamente em suas verdades. E de que servem minhas verdades filosóficas?

Até meus pensamentos são inúteis. Eu me conformo com isso. Quando se destrói o corpo em busca de alimentação, sobreviver é uma dádiva, existir, uma utopia.

Como discutir relações de poder com um cérebro dominado?

Como frutificar a existência com quem sempre se escondeu do mundo?

Por tudo isso eu prefiro não ter um lar.

É melhor apropriar-se do desconhecido que ser um desconhecido apropriado.

Rafael Freitas

Este texto é um pouco antigo...
Senti saudades dos tempos de mudança.





A ficha técnica da imagem fica por conta do Agenor.

Abraço.

segunda-feira, 14 de junho de 2010

Egoísta

"O egoísmo humano é impressionante. Não consigo escrever mais nada por não querer que outros leiam."
                                                                                                                                              Rafael Freitas
                                                                                                                                  
Amanhã postarei outro conto.

Abraço.

quinta-feira, 10 de junho de 2010

Leteu


Expiras o fétido
Salivas o fel
Discorres veneno
Feres ao léu.


Rastejas no lodo
Serpente Maldita
Pérfido é teu ser
Dissimulada, tua lasciva.


Teus olhos, o Fogo
Teus braços, Armadilha
Teu corpo a Chama
Em que o meu, suplicia.


És o Algoz
D’uma alma consumida
Ardente paixão
Daquelas que desatina.


Ao inferno condenaste-me
Vil ser peçonhento 
Mas antes, o céu mostraste-me
Aumentando o sofrimento.




Renato Duran

quarta-feira, 9 de junho de 2010

Quem seria esse cara?!

"E, depois de tanto tempo olhando aquela figura inerte, esdrúxula, cadavérica de olhos fundos boca seca dentes podres, arrancou seu punhal e desferiu, sem dó, um golpe certeiro no estômago.
O espelho quebrou-se em mil partes."
Rafael Freitas
Amanhã iniciarei a postagem de poesias de amigos.

Abraço.

terça-feira, 1 de junho de 2010

Dever cumprido

Eram oito horas da manhã quando ele entrou na sala vestido com aquela roupa de procurar emprego. Tentou romper o silêncio com um sorriso:

- Bom dia, dormiu bem esta noite?

O silêncio persistiu e ele também:

- Está um dia bonito hoje, não acha? Tenho certeza que dessa vez eu consigo trabalho.

Depois de um longo suspiro ela o encarou nos olhos:

- Chegou a hora de você ir embora desta casa.

Ele fingiu não entender, deu um risinho amarelo e continuou:

- Hoje vai ser um dia bom. Tenho certeza.

- Cale a boca! Você me ouviu não é? Chegou a hora de ir embora!

- Mas por quê? De repente vem você com essa conversa de ir embora. Esta casa também é minha! Você é minha mãe, não é mesmo?!

- Esta casa é sua quando eu morrer, e que culpa tenho eu de ter colocado um verme como você no mundo? Agora a culpa é minha! Eu já dei a você esta insignificante vida e chegou o momento de você mesmo cuidar dela!

- Você não tem o mínimo de compaixão por mim? Hoje eu arrumo emprego, eu juro! Eu não tenho mais ninguém, só você mãe! Eu amo você e você também só tem a mim!

- Então eu não tenho ninguém. Você e nada são a mesma coisa. Um nada. É isso que você é, um nada!

Ele não conseguiu segurar as lágrimas. Sentou-se no canto da sala com a cabeça entre as pernas e desfez-se em prantos.

- Mãe...só mais uma chance! Só mais uma! Eu sou seu único filho!

Ela soltou uma gargalhada:

E agora você vai apelar para meu amor de mãe. Era só o que faltava. Essa coisa de que uma mãe deve amar seu filho acima de todas as coisas é balela. Eu já sustentei a coisa que eu pus no mundo até ela se tornar auto-suficiente. A minha parte de não piorar a sociedade jogando mais um no lixo eu fiz. Agora vá embora. É muito simples: você arruma seus trapinhos numa mala e vai embora. Vai cuidar da sua vida!

- Eu só queria uma chance. É muito difícil ser uma mãe como as outras?

- E você acha que todas as mães amam seus filhos e estão dispostas a sustentá-los o resto da vida? Todas cumprem o seu papel na sociedade, só isso. E tenho certeza que por obrigação.

- Por que você não me deixou para adoção? Pelo menos alguém me amaria neste mundo. Pelo menos alguém...

- Esse negócio de adoção é uma vitrine seu idiota! Esse povo que fica bancando o bonzinho o tempo todo só quer se mostrar superior aos pobres mortais. Adotam a criancinha e colocam uma empregada pra cuidar dela! Que humano, não acha?

- Tudo bem, pode mesmo ser tudo fachada, mas alguém poderia pelo menos fingir que me ama, se eu não souber a verdade o resultado será o mesmo.

- Claro, entendi. Filhinho do coração, arrume suas coisinhas e vá embora da minha casa, por favor!

- E pra onde eu vou?

Ela perdeu a paciência e berrou:

- Vá pro inferno! Suma daqui! Se é esta droga de casa que você quer um dia você terá, agora me deixe morrer em paz! Eu quero morrer em paz! Eu quero morrer em paz!

Ele se levantou meio atordoado, foi ao banheiro e vomitou todo seu ódio. Arrumou suas poucas coisas em uma mala e foi embora deixando o gás da cozinha aberto.

Ela nunca se sentiu tão feliz. Seu dever estava cumprido. Foi até a sala, acendeu um cigarro e deu uma longa tragada. Andou até a cozinha para ver de onde vinha aquele cheiro forte.

Finalmente aquela casa era dele.



Abraço a todos.


Rafael Freitas.